SÍNDROME DE BURNOUT: QUANDO O TRABALHO ADOECE

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Há algum tempo atrás era comum as pessoas falarem que estavam estafadas do trabalho. Atualmente a palavra “estafa” está sendo substituída pelo termo “Burnout”, que no sentido literal significa “estar esgotado” ou “queimado” (PEREIRA, 2002).

 

A expressão inglesa Burnout é utilizada para designar aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia. A síndrome foi inicialmente, identificada por Brandley em 1969, mas tornou-se mundialmente conhecida a partir dos estudos de Freudenberger em 1974, que define a mesma como sendo um estado relacionado com a experiência de esgotamento, decepção e perda do interesse pela atividade do trabalho. Essa doença se desenvolve com maior frequência, em profissionais que trabalham na prestação de serviços (ALBALADEJO, 2004), em contato direto com outras pessoas (VOLPATO, 2003), e está muito presente entre os profissionais de saúde (PEREIRA, 2002).

 

Apesar da Síndrome de Burnout ser divulgada desde a década de 70, a doença é pouco conhecida pelas pessoas no Brasil, além disso, a mesma se instala de maneira silenciosa dificultando o diagnóstico da mesma (GARCIA, 2003). Os principais sintomas da síndrome são os comprometimentos físicos, psíquicos, emocionais e comportamentais, cujos fatores desencadeantes são aqueles que contribuem para a geração de sentimentos de descontentamento no trabalho, tais como: salários baixos, falta de reconhecimento profissional no trabalho, falta de progressão na carreira, entre outros (CARVALHO, 2002; RAMÍREZ, 2001).

 

Quando a pessoa é acometida pela Síndrome de Burnout, a mesma pode apresentar : exaustão emocional, despersonalização, baixa realização pessoal no trabalho, fadiga (emocional, física e mental), sentimento de impotência e inutilidade, baixa autoestima a falta de entusiasmo pelo trabalho e pela vida em geral (CARLOTTO, 2002).

 

O ambiente de trabalho também pode favorecer o aparecimento dessa síndrome, quando ela está presente observa-se nas empresas uma maior rotatividade dos funcionários, absenteísmo (faltas no trabalho), queda da qualidade e produtividade no trabalho; o aumento de licenças por problemas de saúde e baixa moral dos trabalhadores. Por isso a síndrome interfere nas dinâmicas interpessoais, no desempenho e produtividade laboral (GARCIA, 2003).

 

Segundo Pereira (2002) a Síndrome de Burnout pode ser identificada por três dimensões :

a) exaustão emocional que é a situação na qual os trabalhadores sentem que não podem se entregar mais. É uma situação de esgotamento da energia dos próprios recursos emocionais, uma experiência de estar emocionalmente desgastado devido ao contato diário com pessoas com as quais necessitam se relacionar em função de seu trabalho.

 

b) despersonalização onde ocorre o desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, além do distanciamento para com as pessoas do trabalho.

 

c) baixa realização profissional, onde os trabalhadores se sentem descontentes consigo e insatisfeitos com os resultados de seu trabalho.

 

Por isso a síndrome é considerada um passo intermediário na relação estresse e suas conseqüências. O estresse laboral provoca consequências nocivas para o indivíduo sob a forma de enfermidade, alterações psicossomáticas, cardiorespiratórias, gastrite e úlcera, dificuldade para dormir, náuseas e, para organização a deterioração do rendimento e da qualidade de trabalho (SILVA, 2003).

Dessa forma, a síndrome pode causar sérios prejuízos para as empresas, pois se reflete diretamente na produtividade com a incidência de atrasos e de faltas, desperdício de material de trabalho e custos elevados em assistência médica, além disso, comprometer a imagem da empresa. Assim, o interesse atual pelos efeitos e consequências da síndrome no contexto de trabalho responde a várias razões, principalmente, aos custos financeiros elevados, tanto para os indivíduos como para as organizações (GARCÍA, 2003).

Odorizzi (1995) e Matamoros (1997) relatam que os principais sintomas da síndrome são:

a) físicos: sensação de fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores musculares no pescoço, ombro e dorso, perturbações gastrointestinais, baixa resistência imunológica, astenia, cansaço intenso, cefaleia, transtornos cardiovasculares;

b) psíquicos: diminuição da memória, falta de atenção e concentração, diminuição da capacidade de tomar decisões, fixações de ideias e obsessão por determinados problemas, ideias fantasiosas ou delírios de perseguição, sentimento de alienação e impotência, labilidade emocional, impaciência;

c) emocionais desânimo, perda da alegria e entusiasmo, ansiedade, depressão, irritação, pessimismo, baixa alta estima;

 

d) comportamentais: isolamento, perda de interesse pelo trabalho ou lazer, comportamento menos flexível, perda de iniciativa, lentidão no desempenho das funções, absenteísmo, aumento do consumo de bebidas alcoólicas, fumo e até mesmo drogas, incremento da agressividade.

 

É importante ressaltar que nem todos estes sintomas estão necessariamente presentes em todos as pessoas, pois isso irá depender dos fatores individuais de cada um. Os sintomas da síndrome devem ser entendidos como uma resposta individual ao estresse laboral que aparece quando falham as estratégias funcionais de enfrentamento que a pessoa pode empregar (JIMÉNEZ; PUENTE, 1995).

 

Barreira (1989) ressalta que a intervenções psicológicas podem causar a prevenção e o tratamento da síndrome, abordando os aspectos de humanização no trabalho, favorecendo positivamente o relacionamento da pessoa com seu ambiente laboral e com suas relações interpessoais.

 

Inúmeros estudiosos sugerem que a prevenção da síndrome se dá através da diminuição de rotinas, evitando-se a monotonia, o excesso de horas extras; do investimento do suporte social às pessoas; da melhoria das condições sociais e físicas de trabalho; do aperfeiçoamento profissional e pessoal dos trabalhadores (FRANÇA; RODRIGUES, 1997).

 

A primeira medida para evitar que a síndrome adoeça a pessoa é fazer com que o trabalhador conheça as suas manifestações, porém, há outras formas de prevenção tais como: as estratégias grupais que consistem em buscar o apoio no coletivo e as estratégias organizacionais em prol de resultados eficazes no contexto organizacional (GIRLING; BIRNBAUM, 1998).

 

Desse modo, ao longo dos anos, a Síndrome de Burnout está relacionada ao trabalho como fonte causadora de adoecimento. Visto que a mesma surge como uma resposta ao estresse laboral crônico, por atitudes e sentimentos negativos desenvolvidos pelo indivíduo em resposta ao estresse no ambiente de trabalho. Burnout é uma doença que agrupa sentimentos e atitudes que implicam em alterações e disfunções psicofisiológicas com consequências nocivas para a qualidade de vida da pessoa.

 
Artigo redigido por
Maria Goretti Fernandes
Doutora em Ciências da Saúde pela UFRN
Avaliadora do MEC/INEP
Professora Adjunta da UFS
Izabela Souza da Silva
Psicóloga da Clínica Rabelo Integrada
Formação em TCC pelo CETCC – São Paulo
Mestranda em Ensino na Saúde e Tecnologia pela UNCISAL

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